Recanto Literário

Qual o proveito das flores postas somente sobre o caixão? Têm mais valor as que são dadas em vida.

Textos

A nobre destinação dada ao velho palacete

 

Terça-feira, dia 11, de manhã, fui à Nova Marabá, abrir uma conta no banco vencedor da licitação para pagar a folha de pagamento dos servidores da Câmara Municipal de Marabá. Vamos deixar de receber pela Caixa Econômica Federal, nosso banco de pagamento desde 1999. É muito tempo, um relacionamento de mais de duas décadas que chega ao fim. Coisas da vida.

 

Pois bem. Não abri a conta. Culpa do sistema, que, indiferente à pressa e ao estresse de quem quer que fosse, estava, como de vez em quando está, muito oscilante: ia e voltava, ia e voltava, como se brincasse com a nossa cara, ou, em linguajar mais clássico, com os nossos sentimentos. Ficou, indefinidamente, na brincadeira de mau gosto e não mudava, o que fez o gerente pedir que voltássemos no dia seguinte. Coisas da tecnologia, que facilita a vida, mas, às vezes, nos tira do sério.

 

Saí do banco aborrecido e fui à Marabá Pioneira, fazer uma transação bancária de urgência, antes de voltar ao expediente na Câmara. Fui à Praça Duque de Caxias, o local de que mais gosto na cidade de Marabá, onde uma agradável surpresa me esperava, qual seja, a de saber que o Palacete Augusto Dias, após a quase eterna reforma por que passou, foi reinaugurado na sexta-feira passada, e o Museu Municipal Francisco Coelho já está aberto à visitação pública.

 

Cheguei à entrada do museu e fui logo convidado a entrar pelo solícito vigilante, de quem fiquei sabendo que a inauguração foi na sexta-feira e que o museu já estava aberto ao público. Que bom, ganhei o dia! Nem só de tédio e aborrecimentos no seu labor vive este homem. Saber da reinauguração do prédio do tão querido Palacete Augusto Dias e da abertura do museu mudou, imediata e inteiramente, o meu estado de espírito. Fiquei muito feliz.

 

Disse ao vigilante do meu amor àquele prédio, onde trabalhei durante muitos anos, e, com esforço para que a voz não me ficasse embargada, falei-lhe rapidamente do meu livro de crônicas A Despedida do Palacete, cujo título é o mesmo da crônica em que descrevo minha despedida do velho casarão no dia em que nos mudamos para o novo prédio da Câmara, no Amapá. Entusiasmado, ele me disse que ficou muito bonito por dentro com a reforma, valendo a pena visitar.

 

Não pude entrar, pois precisava voltar ao expediente, para devolver ainda naquele dia um processo recebido antes do recesso parlamentar. Agradeci ao vigilante e saí, prometendo, entretanto, voltar logo para visitar o museu e rever tudo por dentro. Impossível descrever a emoção daquele momento para mim: o palacete não ruíra, como tanto temi que ruísse. No passado, como escreveu poeticamente Gutemberg Guerra no prefácio de A Despedida do Palacete, daquele prédio histórico, “território onde se materializava o drama da população do município”, eu me “posicionava para a cidade e para o mundo”.

 

Saí. E, como no dia da despedida, marquei a hora. Eram 10h48.      

Valdinar Monteiro de Souza
Enviado por Valdinar Monteiro de Souza em 23/09/2023
Alterado em 24/09/2023


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