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Qual o proveito das flores postas somente sobre o caixão? Têm mais valor as que são dadas em vida.

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Não sou nefelibata, mas gosto das nuvens

Reli – já é a terceira ou quarta vez – a crônica “Um Pé de Milho”, que, por sinal, deu título a um dos livros de crônicas do autor, o escritor Rubem Braga. Foi escrita em dezembro de 1945 e eu a tenho no livro 200 Crônicas Escolhidas, edição de 2005, da Editora Record. “A escolha das crônicas foi feita pelo próprio autor, com base na seleção original do amigo Fernando Sabino”, diz a primeira orelha do livro.

 

Vem da minha origem, o meu amor pela natureza, árvores, animais, rios, paisagens e nuvens. Não sou nefelibata, mas gosto das nuvens. Também gosto de deixar crescer as árvores que nascem espontaneamente, como, por exemplo, goiabeiras e pés de embaúba. Agora, por exemplo, estou deixando crescer, à frente da janela do meu quarto de dormir, um pé de embaúba, que, ainda sem galhos, já tem mais de três metros de altura, aquela vara, fina e frágil, crescendo com muita graça rumo ao céu.

 

Em tempos passados, já na casa da Rua Maranhão, deixei crescer outro, que ficou muito alto, belíssimo e, durante os três ou quatro anos em que o conservei, serviu de parque de diversões a várias espécies de passarinhos, como por exemplo os bem-te-vis, as rolinhas-fogo-pagou e os sanhaços-de-coqueiro. Até mesmo gaviões de grande porte, quase diariamente, pela manhã, o frequentavam. Era muito lindo e dava gosto assistir à algazarra sinfônica da passarada, de manhã e à tardinha, ao cair da noite.

 

Infelizmente, ele nasceu muito perto do muro. Assim, dado que embaúba cresce muito e é frágil, vi-me obrigado a cortá-lo e o cortei. Corria o risco de se quebrar durante alguma ventania, cair sobre a casa vizinha e causar danos, materiais ou mesmo pessoais, a terceiros. Seria uma confusão das grandes inteiramente desnecessária, já que evitável. Cortei-o com pena, como algures o tenho dito.

 

Brincalhão, Rubem Braga encerra sua bela crônica dizendo: “Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.” Eu posso encerrar a minha dizendo que nasci e me criei na roça, onde vivi até os 20 anos. Não será inverdade nem exagero.

 

Valdinar Monteiro de Souza
Enviado por Valdinar Monteiro de Souza em 25/06/2021
Alterado em 24/12/2021


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